Exercício de Reconciliação com a Figura Materna

A relação com a mãe é, sem dúvida, a base de toda nossa estrutura emocional. É através dela que recebemos (ou não) a primeira experiência de amor, acolhimento, proteção e pertencimento. Quando esse vínculo está ferido — seja por mágoas, abandono, distanciamento emocional ou expectativas não correspondidas —, o impacto pode reverberar por toda a vida, influenciando nossos relacionamentos, nossa autoestima, nossa saúde e até mesmo nossa prosperidade.

Na constelação familiar, reconciliar-se com a mãe é considerado um dos movimentos mais profundos e necessários para que possamos assumir plenamente a vida que recebemos.

Por Que é Tão Difícil se Relacionar com a Mãe?

Mesmo quando há amor, a relação com a mãe pode ser carregada de tensão. Isso porque, além do vínculo afetivo, carregamos projeções, expectativas e, muitas vezes, feridas inconscientes. Alguns motivos comuns para o afastamento emocional incluem:

  • Mães emocionalmente ausentes ou frias
  • Críticas constantes ou excesso de controle
  • Histórias de abandono ou rejeição
  • Inversão de papéis (quando a filha cuida da mãe)
  • Comparações com irmãos ou rivalidades veladas

Essas situações podem gerar sentimentos de raiva, mágoa, vergonha, culpa e até repulsa. No entanto, enquanto esse vínculo não é olhado com consciência, ele continua a influenciar silenciosamente todas as áreas da nossa vida.

O Que é Reconciliar-se com a Mãe?

Reconciliar-se com a mãe não é fingir que nada aconteceu, nem obrigar-se a gostar ou a conviver. Reconciliar-se, no campo sistêmico, significa aceitar que ela foi a mãe possível — e que, mesmo com todas as falhas, ela nos deu o mais valioso: a vida.

É um movimento interno, de libertação e honra. Ao fazer isso, você não está fazendo algo por ela, mas por si mesma. Você se reconecta com a fonte da sua existência — e essa reconexão traz força, enraizamento e abertura para a vida.

O Exercício Sistêmico de Reconciliação com a Mãe

Este exercício pode ser feito de forma simples, em um momento de silêncio e presença. Escolha um local tranquilo e reserve pelo menos 10 minutos para si.

Passo a passo:

  1. Sente-se confortavelmente.
    Respire profundamente algumas vezes e traga à mente a imagem da sua mãe. Não importa se ela ainda está viva, se vocês têm contato ou não — imagine-a da forma como for possível.
  2. Visualize ela à sua frente.
    Imagine que ela está ali, olhando para você. Talvez você sinta emoções vindo à tona — permita que venham, sem julgar.
  3. Diga as frases sistêmicas em voz baixa ou mentalmente:
    • “Você é minha mãe, eu sou sua filha.”
    • “Você é a grande, eu sou a pequena.”
    • “Eu tomo a vida que veio de você, exatamente como ela veio.”
    • “Agora, eu deixo com você o que é seu, e sigo com o que é meu.”
    • “Obrigada pela vida. Isso já é tudo.”
  4. Coloque as mãos sobre o coração ou sobre o ventre.
    Fique em silêncio por alguns minutos, sentindo o efeito dessas palavras no seu corpo.
  5. Se desejar, finalize dizendo:
    “Agora eu tomo meu lugar na vida.”

Esse exercício pode ser repetido sempre que você sentir que precisa se reconectar com sua força interna.

O Que Acontece Depois?

Muitas vezes, após o exercício, surgem sonhos, lembranças ou até desconfortos temporários. Isso é natural: o campo emocional está se reorganizando. Com o tempo, você pode começar a perceber mais leveza, clareza nas relações, mais amor-próprio e até melhorias em áreas que pareciam estagnadas.

A reconciliação com a mãe abre portas. É um renascimento interno.

Se Não For Possível Amar, Ainda Assim é Possível Honrar

É importante lembrar: nem toda história permite proximidade emocional. E está tudo bem. Você não precisa amar, perdoar ou conviver com sua mãe para fazer esse movimento sistêmico. Basta reconhecer que ela foi o canal da vida.

Esse reconhecimento basta. E ele transforma.

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